quarta-feira, 2 de março de 2011

Até que ponto o dinheiro muda as pessoas!!!


Mano Mingo estava desempregado há meses.
Com a resistência que só os angolanos tem, Mano Mingo foi tentar mais um emprego em mais uma entrevista.
Ao chegar ao escritório, o entrevistador observou que o candidato tinha o perfil desejado, as virtudes ideais e lhe perguntou:
- Qual foi seu último salário?

- 30 mil Kwanzas, respondeu Mano Mingo.

- Pois se o Senhor for contratado, ganhará 10 mil dólares por mês!

- Aká.... Jura?

- Que carro o Senhor tem?

- Eu tinha um carro de mão onde punha legumes para vender na zunga mas tambem era alugado!

- Pois se o senhor trabalhar connosco terá um VX para si e um Vera Cruz para sua esposa, novos a estalar!

- Aiwéééé, minha vida... Jura?

- O senhor viaja muito para o exterior?

- Quer dizer já fui até M'bula tumba, visitar uns parentes...

- Pois se o senhor trabalhar aqui viajará pelo menos 10 vezes por ano, para Londres, Paris, Dubai, China, Nova Iorque, etc.

- Adjiiiiiiiii, num fala mais... Jura só?

- E lhe digo mais... O emprego é quase seu. Só não lhe confirmo agora porque tenho que falar com meu sócio. Mas já esta praticamente garantido. Se até amanhã (6ª feira) a meia-noite o senhor NÃO receber uma carta nossa a cancelar, pode vir trabalhar na segunda-feira com todas essas regalias que eu lhe disse.
Então já sabe: se NÃO receber carta até a meia-noite de amanhã, o emprego é seu!
Mano Mingo saiu do escritório fraco das pernas mas feliz, apanhou um taxi com os ultimos 100 Kz e foi pra casa. 

Agora era só esperar até a meia-noite da 6ª feira e rezar, mas tambem previniu-se e amarrou capim e colocou na esquina da rua que dava pra casa dele para que não aparecesse nenhuma maldita carta.
 
Sexta-feira dia do homem mais feliz não poderia haver. 


E Mano Mingo ganhou coragem e reuniu a família e contou a nova

Convocou o bairro todo para uma sentada

comemorativa à base de muito cabrité´, fino e música de kilape. 
Sexta a tarde já tinha 2 barris de fino aberto dos 7 de kilape.
Às 21 horas a festa fervia. 

O Dj (de kilape) estava a pôr todas ketas fixe, o povo dançava (era do cambua, tchuco tchuco, aiuéé aiuéé, era tudo...), a bebida era bar aberto.... 

22 horas, a mulher do Mano Mingo (tia Fatita) aflita, já achava que tudo era um exagero, e perguntava se a carta chegar...
A vizinha Matilde gostosa lá do bairo (mais conhecida por Beyoncé), bixa, interesseira dum raio, já dançava do cambua e tchuco tchuco só pro Mano Mingo. E o Dj tocava (grandas cassetes sim senhora pá...)! E as pipas abriam, uma atrás da outra! O povo cantava "deixa a vida me levar... vida leva eu... Posso ir éééé (tava lhes kuiááááá malé)! 23 horas, Mano Mingo já era o papoite do bairro, pois tudo seria pago com os 10 mil Doláres.... 
E também porque o ultimo evento grande no bairro foi o óbito do Man Dadão que segundo o povo "bateu de milhões, muita bebida"...

E a mulher (tia Fatita) já não se aguentava, tava aflita, uns coxe alegre e já descabelada (quer dizer já com a peruca de lado)... 

Às 23h50 minutos... Vira na esquina quase a chocar (por causa do capim amarrado lembram, ya quase deu certo) e fazendo jogo de luzes, um Corolla amarelo da DHL... 
Ewéééééé, era a carta! 
  
O amistoso (boda) parou! 
O Dj parou a música!
 
O homem do cabrité apagou o carvão!
 
A vizinha Matilde (bixa dum raio) afastou-se!
 
Tia Fatita peidou!
 
Todos se perguntavam, e agora? Os kilapes?
 " Coitado do Mano Mingo!" Era a frase mais ouvida. 
- O sr. das pipas já bebado exclamou, "eu então quero o meu kumbú, também fiz kilape na Cuca..."!
 
O fino parou!
 
O Corolla amarelo parou! 


Sai um kota kilombo e se dirigiu ao Mano Mingo:
 
- Senhor Domingos Makubikua? (nome do Mano Mingo, hihihihihi....)
 

- Si, si....simmm, só, só eu simmm...

-Tia Fatita lhe empurrou para frente e disse " agora fala bixo de merda, não finge que es gago eu te avisei..." 
A multidão não resistiu....
 
Ewééééééééé, bandeiraaaaa!!!!!!!!!!!
 
E o kilombo do Corolla diz:
 
- Tenho uma carta muito importante para o senhor..
 
Mano Mingo não acreditava...
 
Pegou na carta, com os olhos cheios d'água, levantou a cabeça e olhou para todos....
 
Silêncio total. 


Não se ouvia sequer um mosquito, até o transito de repente aquela hora engarrafou a espera da noticia...!
 
Mano Mingo respirou fundo e abriu a carta a tremer, enquanto uma lágrima escorregava no canto do olho....
 
Olhou de novo para o povo e tirou a carta do envelope, abriu e começou a ler em silêncio.... 


O povo todo em silêncio aguardava a notícia e se perguntava:
 
- E agora? Quem vai pagar os kilapes?
 
Mano Mingo recomeçou a ler, levantou os olhos e olhou mais uma vez para o povo que olhava pra ele tipo novela da Globo...
 
Foi então que Mano Mingo abriu um largo sorriso, deu um berro triunfal e começou a gritar eufórico
 
- É nbora o mó Pai que morreeeeuuu!
- Mó pai morreeeeuuu!!!!!!! 

  
Pode continuar a festaaaaaaaaa...

E o povo gritou, ehhhhhhhh vivaaaa.... 
PODE VIRÉÉÉ.......... 

Hihihihihihi.... sempre a rir....hihihihihi....

*Nós e o Dinheiro...

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