Perdoe-me e proteja-me Deus, perdoem-me os homens que se sentirem ofendidos ao serem alvejados por estas verdades mais velhas do que a idade de Cristo. Respeitosamente! Excelências. Como pacato cidadão angolano, foi com profundo pesar e imensa consternação que na companhia dos demais, tomamos conhecimento no pretérito dia 09 de Agosto do Comunicado Fúnebre emitido através da Tristemente Célebre Conferência de Imprensa que vossas excelências presidiram para proteger o Candidato José Eduardo dos Santos, a CNE e concomitantemente caucionar antecipadamente a morte dos angolanos perante vossos desígnios ditatoriais, anti-nacionalistas e asperamente saudosistas de um passado tremendamente horroroso e sinuosamente funesto. Toda a culpa do passado é vossa ou de atitudes do género:
Tenho Dito!
Félix MIRANDA
“imputar aos outros aquilo que copiosamente vocês faziam e reincidem no presente”. Nós, eu pessoalmente sou testemunha de muita malandragem que lacrou a adulterada história de Angola dos anos 1974 a 1976 e 1991 a 1993 e estende-se aos nossos dias, em que milhares foram os angolanos mortos ou atirados para as avenidas da amargura, por causa de pronunciamentos incendiários iguais aos de vossas excelências em tribuna no dia 09 de Agosto, espelho translúcido que não consegue, nem reflectir, nem esconder as ambições desmedidas e pior, a cupidez de um Apartheid camuflado, com eco na TPA, RNA e JA, para Angola e para o mundo.
Excelências doutores, homens muito bem formados, proeminentes dirigentes do MPLA! Estamos cansados de ouvirmos lições de civismo que os nossos professores que sois vós não praticam. Por isso, em nome de angolanos íntegros, permitam-me lembrar-vos se angolanos sois, que já não somos os descendentes directos de Kunta-Kinte (Toby, nome imposto pelos brancos) e de Chiken George, antepassados que celebrizaram no século XVIII a coragem e a revolta dos escravos africanos usados como mercadoria para serviços forçados no odioso comércio triangular desde o século XV, entre as Américas, a Europa e África, onde os brancos usaram a Bíblia e a Cruz de Cristo para enganar os autóctones e se apoderarem das nossas terras, raptarem e exportarem seus valorosos filhos para o desconhecido. Com esta operação, milhões de africanos desapareceram, reduzindo a população do continente negro para metade, incluindo a angolana que, de 60 milhões, passou desastrosamente para 15 milhões e hoje por este golpe tornou-se vulnerabilíssima a todo o tipo de penetração, usurpação, invasão e servilismo. Os angolanos de 2012, evoluíram consideravelmente. Hoje, tanto os formados, instruídos ou não instruídos, todos aprenderam a tomar conta de si próprios, deixaram de ser as mulas e os míopes seguidistas de outrora.
Estamos em Democracia, mas todos vocês se decidiram defender com unhas e dentes aquele que foi o nosso presidente em 33 anos, quão imaculado
esteve durante todo este tempo, recorde que nem Obama nos EUA, ou Sarkozy em França, em apenas 5 anos foram capazes de quebrar. Estamos
em Democracia, mas somos perseguidos de morte, simplesmente por criticar naturalmente sua Excelência o Presidente a quem recai, pelo sim, pelo não, toda a responsabilidade do bem ou do mal, do bom ou do mau protagonizado nesta terra Angola, contra ou à bem dos angolanos.
Quem humano ficaria ileso de culpas, diante da regência de cerca de 20 milhões de almas, ontem indígenas, hoje cidadãos de plenos direitos?
Queira Deus ter pecado ao criar homens com suas diferenças de defeitos ou qualidades que nos levam as divergências e por tal aos excessos de
zelo e acometimentos de crimes de mando.
Disse Gervásio, meu amigo: “Já morremos muito pela estupidez de nos enganarmos uns aos outros e de pensarmos que Angola pertencia a um
Deus Humano, desembarcado de pára-quedas do Céu ou dos infernos, sem pelo purgatório ter passado, pelo que o sacrifício a consentir pelos
angolanos, seria em honra de criaturas pré-destinadas por Deus a humilhar e maltratar milhões de outros”.
BASTA, meus senhores! Somos angolanos, sim senhor, temos direito a governar também e a usufruir das riquezas, tal como todos vocês e em
muitos casos, mais do que! Porque razão, havemos de ser eternamente submissos, considerados párias, inquilinos em nossa própria TERRA?
Civilizado não significa apenas andar com fato e gravata. Estamos em plena campanha eleitoral, acto sublime civilizacional, propício para
mostrarmos o nosso valor como quadros, cabeças pensantes, dotados de conhecimentos científicos na verdadeira Aldeia Global, esta da
civilização caracterizada pelos pergaminhos da DEMOCRACIA nos seus múltiplos estádios, que nega as formas de governos monárquicos,
absolutistas e vitalícios, cujo objectivo visa marginalizar todos os outros, impondo uma sucessão de poder por meio da hereditariedade, com
um Rei que impõe um Delfim “herdeiro” que pisa todos os outros com muito mais capacidades ou legitimidade. Este mundo civilizado não aceita o simulacro de um sistema de governação sem nome, baseado na consagração de eleições antecipadamente fraudulentas, unicamente para caucionar a impostura. Porque razão meus senhores entoam cânticos de vitória antecipada, falam de eleições transparentes, quando não aceitam verificações da lisura arvorada e deixam todo um processo se encharcar de evasivas e zonas escuras?
A civilização a que me refiro e que bem gostaríamos ter vossas excelências como mestres com experiência pelos 37 anos de governação, recomenda o Debate, com a Crítica e Auto-crítica; não só com exposição de projectos de sociedade por meio de dissertações idílicas de poetas alucinados, ou de bons samaritanos supostamente indulgentes, finalmente imundos. A civilização da nova Era requer acima de tudo o Debate Directo e em confrontação no contraditório e ao vivo, com a participação também directa dos cidadãos estruturados com a latitude de intercederem e interceptarem os governantes para se certificarem do bem fundado daquilo que cada um propõe para os cinco anos enquanto governarem. Isto pressupõe tolerância, humildade intelectual, transparência, capacidade de coabitarem na diversidade e aceitarem a
alternância, não somente política, mas essencialmente multipartidária;
não de meninos encomendados, mas de homens ou mulheres que se sobrepõem de forma civilizada ao veredicto do povo, sem aldrabices, hoje fundamento incontornável para a evolução das sociedades, concomitantemente dos povos. Isto não acontece, os presunçosos dirigentes desprezam os debates_ e aqueles que neles participam, premissa de democracia nas sociedades civilizadas e avançadas que vos acolhe todos os dias quando desceis dos aviões em busca de confortoque nunca em Angola houve, onde o Músico DOG MURRAS, diz: “Angola do Hunku-Hunku, onde o dirigente que diz defender o povo, não baixa o vidro ao Zé Povinho”, onde o cidadão só tem valor nas vésperas das eleições, onde se oferece aos autóctones casas de esferovites, etc.
Pedimos perdão, peço imensas desculpas, mas estamos feridos, estou ferido, é demais, 37 anos passados, sem nenhuma evolução na
proporcionalidade; não está correcto. Ofereçam-se aos debates directos nas televisões ou rádios, pois o povo vos quer conhecer, quer saber realmente quem sois!? Como mandam as regras democráticas, não tenhais medo, desçam do pedestal e confrontem os verbos com a realidade prática. Disse igualmente Gervásio: “Incrivelmente, aqueles que nos dão lições, se furtam a se penitenciarem de descalabros normais de quem governa homens na Terra, quanto mais não seja por mais de três
décadas”.
Quanto a estes pressupostos, os camaradas do MPLA, vossas excelências estão muito longe. E, provavelmente pelos males provocados, procuram incendiar a pradaria por um simples senão e de forma matreira para esconderem os males, atribuem sempre aos outros o que programam nos corredores, dão culpas aos outros de guerras que foram programadas nos labirintos da URSS e na Ilha de Fidel de Castro.
O que os doutores Rui Falcão e Jú Martins fizeram nessa infeliz Conferência de Imprensa do dia 09 em pleno século XXI, foi somente para confirmar o que se reserva aos angolanos desta simbiose atómica cujos ingredientes (nepotismo, autoritarismo, despotismo, oligarquia) aniquilaram a alma patriótica e reduziram ao longo dos 37 anos milhões de angolanos ao servilismo físico e de consciência, pior aos dos tempos de Kunta Kinte, três séculos passados.
Vivo em dois mundos diferentes, constato com tristeza que o de África, portanto o de Angola, ainda se assemelha a uma selva com a lei do mais forte, onde os animais se devoram uns aos outros. Mas não é por sermos africanos que nos devemos assemelhar assim tanto aos irracionais. As regras do jogo democrático, não são ditadas de forma avulsa e individual, elas dimanam de normas constitucionais aceites na legalidade, mesmo não sendo legitimas. Por isso, caros doutores, gente civilizada, deixem de inventar fantasmas e urdir cenários das trevas.
O Mundo sabe, meus senhores também, quem mais precisa da PAZ, somos todos nós outros; quem mais roga pela instabilidade, sois vós, como acontece agora ao orientarem vossos activistas a colarem panfletos nas paredes das sedes de outros partidos, estas e outras malabarices para justificarem a intimidação e repressão que faz a vossa força e assegura a continuidade do calvário que nos faz todos gemer, desde a noite dessa independência amaldiçoada. O facto de virem a público verter lágrimas de crocodilo e ao pretenderem vender a imagem de anjos da guarda, é insensato, quando sabem bem que o papel de vítimas não vos encaixa.
Ainda Gervásio, amigo no exílio quase fatídico: “Já morremos muito, ficamos muito poucos, para partilhar as infindáveis riquezas que Deus atribuiu a este povo. Se formos todos civilizados, cada angolano terá direito sim senhor a uma casa, formação, um emprego condigno, subsídio de saúde, um carro e uns trocos para passear pelo mundo fora e distribuir o amor verdadeiro, não o comprometido e esboçar sorriso de contente, não para afugentar a dor. Deixem os outros provar o contrário da indecência, fazer em apenas 5 anos, aquilo que não fizestes em 37 (proporcionar o bem-estar para a maioria dos
angolanos)”.
Bem-haja Angola! Perdoem-nos o propósito, mas sejam sinceros às vossas reais intenções, se realmente sois reputados a nos dirigir e a mostrar ao mundo que realmente governais, sem vergonha, ou melhor com o maior dos orgulhos, um povo que bem merece ter como representantes, mulheres e homens exemplares.
Félix MIRANDA
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