quinta-feira, 12 de abril de 2012

Teles anuncia: “Vamos avançar com uma proposta de compra do BPN Brasil”


Fernando Teles, presidente do banco BIC Angola e accionista da instituição, que comprou o BPN através do BIC Portugal, afirma que vai apresentar ao Governo uma proposta de aquisição do BPN Brasil.
A entrevista a Fernando Teles, 59 anos, accionista e presidente do BIC Angola, decorreu já na sede do BPN. Na sala, o único traço dos novos proprietários é a gravata do bancário que passou a banqueiro (é dono de 20%), com o símbolo da instituição que criou em Luanda, juntamente com Isabel dos Santos, Américo Amorim e com vários quadros que foi buscar ao Banco Fomento Angola, do qual era responsável desde a sua criação.
Descrevendo-se como "humilde, sem ser subserviente", diz que a principal vantagem do BIC Portugal é dispor de liquidez para financiar as empresas portuguesas, devido ao balanço do BIC Angola. Este, criado em 2005, tornou-se um dos maiores bancos deste país. E confirma que no contrato inicial, de 31 de Julho, negociado com o actual Governo, a linha de liquidez a fornecer pela CGD no valor de 300 milhões de euros tinha um spread de 0%.

Como correu a reunião de terça- -feira com os trabalhadores do BPN?

Muito bem. Estiveram mais de 200 pessoas e aproveitámos para apresentar os quadros do BIC que vão chefiar algumas áreas. Expliquei o que é o banco, quem são os accionistas, quem sou eu próprio, qual é o nosso objectivo de crescimento no exterior, e em que mercados estamos. Depois passei a palavra ao engenheiro Mira Amaral [presidente do BIC Portugal] para falar sobre os seus objectivos e a sua equipa. E pedi aos quadros para darem a sua opinião sobre a forma como devemos rapidamente tornar este banco um banco credível e rentável.

Fez promessas aos trabalhadores do BPN?

Disse-lhes que o futuro está nas mãos deles. Se eu puder manter mais de mil postos de trabalho no BPN [o mínimo exigido pelo Governo é de 750], vou manter. Acredite que o farei. Tenho consciência de que o cenário na Europa não será bom durante alguns anos, mas nós o que queremos é sair do vermelho.

E em relação às 220 agências? Quantas pensam fechar?

Se puder ficar com todas as agências, também fico. Disse aos trabalhadores do BPN: dou-vos 120 dias para cada um mostrar o que vale. Se ao fim desses dias estivermos numa situação em que muitas agências passaram de um situação negativa para positiva, essas com certeza que se vão manter. E haverá casos em que aumentarão o movimento, mas não chegam a estar positivas...

Qual o trunfo do BIC Portugal/ /BPN?

Somos um banco com 2,5 mil milhões de dólares de liquidez em Angola. Temos 4,8 mil milhões de dólares em recursos, e temos utilizado, pelos clientes, 2,8 mil milhões de dólares em crédito. Temos fundos próprios de quase 700 milhões de dólares. Durante os primeiros quatro anos não distribuímos resultados, e agora não distribuímos mais de 40%, pelo que a situação é confortável. Tivemos a preocupação de recapitalizar o banco e de lhe dar bons rácios de solvabilidade. O facto de termos liquidez vai ser muito positivo para os gerentes do BIC Portugal, que ficam em boas condições para negociar com os empresários portugueses que estão em Angola. Podem dizer-lhes que o BIC é um banco que os pode apoiar em Angola, contrariamente a outros bancos portugueses, que não têm liquidez.

Tais como? O BFA, do BPI?

Não. O BPI tem liquidez. O que não tem é o Banco Espírito Santo Angola, toda a gente sabe disso. Mas esse é um problema do Espírito Santo. Nós podemos captar clientes em Portugal com o incentivo de que temos um banco em Angola que lhes dá liquidez para investir. Nos últimos seis meses, parte daquilo que são os apoios da Cosec a Angola para os empresários portugueses, e como os bancos nacionais estavam com dificuldades de liquidez, tem sido o BIC Portugal que está a fazer as operações e a apoiar as grandes empresas portuguesas, como a Mota e a Soares da Costa. Fazemos as operações com garantia do BIC Angola, porque o BIC Portugal não tem balanço para fazer grandes operações.

Qual é o valor global?

O BIC Portugal tem cerca de 300 milhões de euros em crédito. Perante uma empresa que tem dividendos para distribuir pelos sócios, mas que precisa de autorização do banco central para fazer pagamentos ao exterior, o que é que fazemos? Fazemos um adiantamento cá, para eles irem fazendo pagamentos de tesouraria, e eles dão-nos a garantia lá, uma vez que têm dinheiro para fazer pagamentos ao exterior mas não estão autorizados. E fazemos essa triangulação, em termos de operações, o que permite resolver os problemas das empresas em Portugal e conceder crédito por parte do BIC Portugal.

Qual é o vosso objectivo de expansão para o exterior?

Já apresentámos um projecto para abrir uma sucursal na Namíbia e temos um escritório na África do Sul. Estamos a estudar os mercados do Congo-Brazzaville e da República Democrática do Congo, e os países encostados a Angola, a Zâmbia e o Zimbabwe. Vamos estudar o Botsuana e, eventualmente, Moçambique. Estivemos a semana passada no Brasil para analisar a hipótese de nos candidatarmos à compra do BPN Brasil.

Admite então a compra do BPN Brasil.

Vamos fazer uma proposta na próxima [esta] semana. Vai tudo ficar nervoso só de ouvir falar que queremos comprar o BPN Brasil. O Brasil vai continuar a ser um grande país, é quase um continente. A verdade é que achamos que é importante ter uma licença no Brasil. Disseram--nos que o banco central não está a conceder novas licenças, mas tem lá 15 em carteira, de bancos em dificuldade. E pode--se comprar um ou fazer uma parceria. À semelhança do que o senhor Américo Amorim ou o senhor Ruas, nossos accionistas, já fizeram, comprando o Banco Luso Brasileiro, com duas ou três agências.

Vão ficar sócios do BAI [Banco Angolano de Investimentos]?

Não é drama nenhum, e que eu saiba o BAI não acompanhou os aumentos de capital, porque não está interessado em manter-se lá. Ainda tem 5%, mas acho que não vamos ser sócios porque ele quer sair.

Já falaram com a tutela?

Já houve contactos verbais. O que a tutela quer é alguém que faça propostas. O Governo português meteu lá dinheiro em 2010, 2011 e 2012. As autoridades brasileiras, como o banco tem prejuízo, exigem que o Governo meta lá dinheiro para colocar os rácios normais. E eles têm de vender ou liquidar. O banco está à venda há um ano, houve duas propostas baixíssimas. Agora, o BIC diz que vai fazer propostas, e, assim, se calhar as seguir aparecem outras. Mas não fico nervoso, pois há lá mais 15 à venda.

Quem compra é o BIC Angola ou o BIC Portugal?

A expansão passa pelo BIC Angola, pelos accionistas, pois a decisão da Comissão Europeia impõe limitações às compras do BIC Portugal.
Já disse que interromperam as negociações com o Governo para comprar o BPN e que estiveram a analisar outras hipóteses em Portugal. Um dos bancos que estudaram foi o BPI?
O que eu disse aos trabalhadores foi isto: hoje, em bolsa, 20% do BPI custa 120 milhões de euros. Nós, BIC, temos uma accionista  que já tem 10%, se comprássemos mais 20%, ficávamos com 30% [a partir de 33% teriam de lançar OPA], e éramos capazes de ter alguma influência no banco. Mas eu não disse a ninguém se era o BPI ou o Banif. Se tivesse falhado o BPN, e houve um momento em que houve recuo, pois quiseram impor--nos algo totalmente diferente do aprovado em Junho, se calhar aí avançávamos para alternativas. E foi o que dissemos ao Governo, pois havia accionistas que estavam disponíveis para vender. E dos bancos o BPN era o pior.

Afirmou que se a Comissão Europeia [CE] tivesse exigido mais cedo os remédios, o BIC não teria comprado o BPN...

Entretanto fomos conhecendo o banco por dentro, as pessoas... Este negócio não foi pacífico a nível da assembleia geral do BIC, onde havia accionistas que não concordaram com ele. São solidários com a decisão, mas sabem que a situação do país e do BPN não é fácil. Não é fácil rentabilizar um banco com esta situação e com mil trabalhadores e 220 balcões.
No contrato inicial, de 31 de Julho, negociado entre o BIC Portugal e o actual Governo, em relação à linha de liquidez a fornecer pela CGD no valor de 300 milhões de euros, estava ou não previsto um spread nulo? [Na conferência de divulgação do acordo, a 1 de Abril, foi dito que nunca tinha estado em causa um spread nulo.]
No acordo de 31 de Julho de 2011 não havia spread. No acordo- -quadro assinado a 9 Dezembro de 2011, já havia um spread de 125 pontos-base, porque já tínhamos, Governo e BIC, consciência de que a Comissão Europeia não aceitava spread zero. Agora ele foi aumentado por imposição da CE em 2,75%.

Qual foi a imposição de Bruxelas que mais lhe desagradou?

Havia várias exigências: o BIC Portugal não pode comprar mais nenhum banco durante cinco anos. Há uma outra exigência...Quando dizem que inviabilizamos o BPN Crédito e a leasing por irmos lá buscar crédito não é verdade. As empresas não eram viáveis sem o BPN e teria de surgir um banco qualquer que lhes comprava o crédito, fosse o BIC ou outro. O que aconteceu é que o nosso modelo previa que nos entregassem 2,25 mil milhões de euros de crédito e não havia esse crédito no BPN. Só chegámos a 1,7 mil milhões ou 1,8 mil milhões de euros de crédito e depois tivemos de ir aos veículos do grupo [como o BPN Crédito] que davam crédito com financiamento do BPN para ir buscar o que faltava. Sem essa solução não havia negócio.

Os créditos que ficaram nas mãos do Estado são todos maus?

Não são todos maus. Os créditos são bons ou maus se são recuperáveis ou não, dependendo da conjuntura.

Apresenta-se com uma imagem menos institucional e menos conservadora do que é esperado num banqueiro. É um trunfo para dinamizar o grupo nesta fase?

A proximidade é muito importante. Comecei a trabalhar aos 14 anos e já passei por cinco bancos. E sempre fui uma pessoa aberta e não me dei mal com isso. Fundei o banco que o BPI tem em Angola, fi-lo crescer e quando saí já éramos líderes. Tenho a política da porta aberta, não só para os clientes mas também para os trabalhadores. Mas tenho consciência de que não vou resolver todos os problemas. Parecendo que não, se tivermos uma palavra, o cliente sai do banco satisfeito, e volta sempre. Se ele sair sem estar satisfeito, vai ponderar se tem alternativas e não regressa.
Seja em que actividade for, para fazer negócio as pessoas têm de ser simpáticas com quem nos dá o dinheiro a ganhar. E não me tenho dado mal com isso. Os colegas do Banco Borges & Irmão (BBI), no qual estive 17 anos - e onde fui líder sindical, líder da comissão de trabalhadores, membro do conselho geral -, as pessoas que estão hoje nos sindicatos bancários, o Delmiro Carreira, o Paulo Alexandre, o João Carreira, todos me conhecem.
Quando fui para Angola, há 20 anos, criar um banco do zero, fui o mesmo. Tento ser humilde, sem ser subserviente, ter dignidade e tratar todos com dignidade. Em Angola trato todos da mesma forma, e quem o faz acaba por ter êxito. Se perguntar às pessoas em Angola, ou aos empresários portugueses presentes no país, poucos dirão mal de mim. Os concorrentes são mais capazes de dizer mal, e mesmo esses não têm razão para o fazer. Eu sou um concorrente, mas se tiro um cliente é porque dou melhores condições.

A sua vertente sindicalista ajudou-o a ter preocupações sociais, é isso?

E tenho. Fui presidente do grupo desportivo do BBI durante algum tempo. Essa minha acção também me ajudou a não ter problemas com os trabalhadores. Fui candidato à associação de alunos do ISCTE e fiz parte da lista do António José Seguro, ele organizou a lista do dia e eu organizei a lista da noite. Gosto de fazer coisas. O fazer coisas é criar mais postos de trabalho. O que interessa é ser empreendedor. Associei-me ao senhor Américo Amorim e à doutora Isabel dos Santos porque são empreendedores natos. Estão sempre a ver que outros negócios podem ajudar a fomentar.

fonte: radioculturaangolana.com

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