O clamor dos jovens deve-se as perseguições e raptos que têm sofrido por elementos ligados à direcção do clube desportivo Kabuscorp.
No dia 07 de Março, Mário Domingos foi raptado e espancado por homens orientados por bento kangamba, presidente do Kabuscorp. O espancamento aconteceu frente ao tanque do Cazenga, muito próximo da esquadra móvel da polícia existente no local e, segundo o mesmo, os agentes da farda azul facilitaram o trabalho aos agressores transportando-lhe na carrinha da corporação até a terra vermelha.
“Quando me raptaram, o Raúl, vice-presidente do Kabuscorp, ligou ao Bento Kangamba pedindo orientações sobre o que fazer comigo. Assim que oiço o nome do Kangamba repito o seu nome e eles começam a bater-me”, conclamou Mário Domingos.
“Na sequência do espancamento eles obrigavam-me a dizer o nome e a localização dos meus compatriotas”, adiantou.
Os atacantes denominados de “Movimento de Defesa da Paz”, segundo os relatos, são na maioria cidadãos estrangeiros de origem desconhecida. Os mesmos estão localizados e têm a protecção de altas patentes da Polícia Nacional, conforme mostram as provas postas a circular em sites da internet.
“São cidadãos que mal falam o português. Quando me ligam, não percebo quase nada do que dizem. Pergunto-lhes sempre se falam alguma língua nacional, porque falo o Kimbumdu, mas nem percebem a minha pergunta”, disse Donilde Alexandre.
Rosa Conde, manifestante, foi detida, após espancamento em plena luz do dia, durante três dias na esquadra do Cazenga. “Todos os dias
recebo telefonemas intimidatórios. Sou vigiada até na escola pelos mesmos bandidos que estavam na manifestação a nos espancar. Eles nem se escondem.
Na noite de 27 de Março, terça-feira, Mário escapou a invasão das milícias, graças a intervenção imediata de Makuta Nkondo e Artur Pestana Bonavena. “As 17 horas e 30 minutos apareceram com outro carro, por isso não nos apercebemos da chegada deles, mas assim que vejo o rosto deles reconheci logo que eram os assassinos. Ficaram na minha rua até 0 horas. Antes liguei para o tio Makuta e ao Bonavena.
Expliquei a situação e eles ligaram ao comandante do Cazenga, que logo ordenou duas patrulhas a permanecerem em minha casa até ao amanhecer. E assim aconteceu”, esclarece Mário.
O dia-a-dia destes jovens tem sido um calvário e, para prevenir males piores, alguns encontram-se refugiados em locais que acreditam serem seguros.
Questionados se já haviam feito queixa à polícia, Donilde Alexandre respondeu: “Ir a polícia é a parte mais complicada. Aqui não existe uma polícia para o povo, mas sim para o MPLA, porque quando estamos nas manifestações a polícia aparece e faz um cordão, mas quando aparece os guardas do Bento Kangamba eles abrem para agredirem os manifestantes. Depois destes malfeitores acabarem o trabalho eles fecham o cordão novamente para que ninguém sai. Desta forma como
vou dirigir-me a uma esquadra se o polícia que encontrarei lá é o mesmo que ajuda a bater-nos. Esta é a dura realidade. Não existe uma polícia que garante segurança, mas sim uma polícia que satisfaz os caprichos de certos indivíduos”.
Os jovens manifestantes reafirmam que não se vergarão às injustiças do partido que governa o país por 35 anos, e adiantam que estão a preparar mais manifestações para os próximos tempos.
“Como jovens que somos, cabe-nos a responsabilidade de levantar debates sobre a situação do País e reclamar os nossos direitos. Por fazermos isso é que os dirigentes deste Estado chamam-nos marginais, dizem que queremos guerra. Eles não querem uma sociedade consciente dos seus direitos, não querem uma juventude intelectual, simplesmente querem o espírito monopartidário”, palavras de Alexandre.
“Eles querem formatar nossas ideias. Não pode existir mentalidades diferentes. Se a cor do papel é branca e eles disserem que é amarela, então todos têm de dizer que é amarela. Isso não pode continuar. 32 anos é muito”, acrescentou.
Por outras palavras, está declarado em Angola o verdadeiro Estado de Sítio.
Sedrick de Carvalho
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